Olhos no Brasil 1

Algumas experiências são marcantes e devem ser divididas. Risoletta Miranda, diretora geral da Addcomm, teve o privilégio de fazer uma velejada no Brasil 1, o barco brasileiro que está fazendo história. Leia o relato:

"Todo dia acordo lembrando de ninar meus olhos de menina. Não porque dizem que ser um pouco criança é bom ou porque tenho medo de envelhecer. Mas porque os meus olhos de menina, todos os dias, sempre enxergam os meus melhores momentos. Não porque são mais ou menos puros que meus olhos de adulta. Menos ainda porque são mais inocentes ou imaturos. Mas todas as vezes que olho o mundo pelos meus olhos de menina tenho sido mais livre, mais feliz, mais leve e mais divertida.

Foram os meus olhos de menina que subiram para uma velejada no Brasil 1, o barco brasileiro que vai para a Volvo Ocean Race. Até então, todos os barcos da minha vida tinham sido de papel, nas sarjetas das ruas de Abaetetuba, depois das chuvas fortes da tarde, no meu distante Pará. Também tive os motores pequenos que atravessam os rios da Amazônia, as gaiolas com suas redes pela baía do Marajó. E também algumas pequenas jangadas do Nordeste, com seus troncos amarrados e suas velas coloridas e remendadas.

Mas quando os meus olhos de menina estavam diante do mar, a bordo do Brasil 1, tinha começado um filme épico, dos mares, dos heróis, dos vikings louros da Escandinávia, dos piratas, dos empreendedores da Escola de Sagres que saiam dos portos da Europa para ir atrás não se sabe de que mar e terra. E nem de que destino. Para mim foi uma viagem ao mundo da conquista do mares. Os homens das medalhas olímpicas estavam ali no comando (o Torben, o Marcelo, até o Nuzman!). Todos tão perto... tão vencedores, que orgulho devem ter de suas conquistas! O barco inclinando, 40 graus, indo a 20 nós e eu olhava a grandeza da vela colorida nos seus 32 metros imponentes. Um sinal liberto só contido pelo mastro e suas cordas.

Os homens correndo para puxar cabos, cordas e uma impressionante conversa com o vento. Brutal. Na base da força. Braço puro. E aquele mar lá com pinta de quem não se deixa dominar, apenas permite que eles por ali passem. Fiquei pensando nos dias de mar que eles terão pela frente. Mesmo com tanta tecnologia naquele barco, pensei em quanta coragem eles levavam naquele barco desnudo, com aquela vela parecendo tão frágil e com o sol e o mar por desafio.

Sai de lá com meus olhos de menina melhores, mais felizes e mais salgados. (rizzo)"